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Trump preside acordo de paz entre Armênia e Azerbaijão, ofuscando a Rússia
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Trump preside acordo de paz entre Armênia e Azerbaijão, ofuscando a Rússia

Líderes das duas nações visitaram a Casa Branca para declarar uma trégua na guerra pelo Nagorno-Karabakh, vencida pelo Azerbaijão pela força em 2023.

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Líderes das duas nações visitaram a Casa Branca para declarar uma trégua na guerra pelo Nagorno-Karabakh, vencida pelo Azerbaijão pela força em 2023.
O presidente Donald Trump recebeu, na sexta-feira, os líderes da Armênia e do Azerbaijão na Casa Branca e presidiu a assinatura de uma estrutura de paz destinada a normalizar as relações entre as nações vizinhas do Sul do Cáucaso após um sangrento conflito armado de quatro décadas.

Pelo novo acordo, os Estados Unidos terão direitos exclusivos de desenvolvimento sobre o altamente contestado corredor de Zangezur, no Sul do Cáucaso — um avanço surpreendente não apenas para a Rússia, mas também para o Irã e a Turquia, todos com interesses econômicos e políticos na região estratégica.

O fato de a reunião histórica, entre o presidente azeri Ilham Aliyev e o primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan, ter ocorrido na Casa Branca — e não no Kremlin — representa uma notável afronta ao presidente russo Vladimir Putin, que, desde o início da guerra em larga escala contra a Ucrânia em 2022, tem visto sua influência sobre o espaço pós-soviético enfraquecer drasticamente.

Trata-se do mais recente esforço de pacificação global empreendido por Trump nos últimos meses, em sua tentativa de consolidar a reputação de negociador, trabalhando pessoalmente para pressionar líderes a resolver conflitos e declarando abertamente seu desejo de conquistar o Prêmio Nobel da Paz.

“Foi muito tempo, 35 anos, eles lutaram, e agora são amigos, e serão amigos por muito tempo”, disse Trump na Casa Branca, com Aliyev e Pashinyan sentados ao seu lado. “Muitos tentaram encontrar uma solução, inclusive a União Europeia. Os russos trabalharam muito nisso; nunca aconteceu. O sonolento Joe Biden tentou, mas vocês sabem o que aconteceu lá.”

Em mais um revés para Putin, que ainda aspira restaurar o status de superpotência da Rússia, o acordo prevê que o Exército dos Estados Unidos desempenhe um papel nas operações de manutenção da paz na região.

“Isso é um golpe forte contra os interesses da Rússia”, publicou Sergei Markov, analista político ligado ao Kremlin, no Telegram, descrevendo o acordo e os novos arranjos de segurança regional.

Markov classificou o tratado como “grande vitória para os Estados Unidos e para Trump pessoalmente” e uma derrota para a Rússia, o Irã e a União Europeia, especialmente a França. “Isso muda a posição estratégica de todo o Sul do Cáucaso”, escreveu.

Os países também concordaram em assinar uma carta conjunta solicitando oficialmente à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) a dissolução do Grupo de Minsk, criado em 1994 para encontrar uma solução para o conflito em Nagorno-Karabakh.

O grupo, presidido por Rússia, França e EUA, não conseguiu, em quase três décadas de diplomacia intermitente, resolver a disputa.

A guerra entre Azerbaijão e Armênia pelo Nagorno-Karabakh, território disputado desde a era soviética, terminou em 2023, após Baku realizar uma ofensiva militar decisiva para recuperar terras há muito reconhecidas internacionalmente como parte do Azerbaijão, mas que estavam sob controle armênio havia décadas.

Durante a campanha militar, 100 mil armênios étnicos foram deslocados, deteriorando as relações com a Rússia, que havia sido por muito tempo a principal garantidora da segurança armênia, mas cujas forças militares na região não conseguiram impedir a ofensiva azeri ou proteger os residentes armênios. Nem Aliyev nem Pashinyan responderam, na sexta-feira, se os armênios étnicos poderiam retornar em segurança a Nagorno-Karabakh.

Aram Hamparian, diretor executivo do Comitê Nacional Armênio da América, criticou o acordo, afirmando que ele absolve o Azerbaijão pelo que classificou como limpeza étnica em Nagorno-Karabakh.

“O mesmo Donald Trump que falhou em impedir o ataque do Azerbaijão a Nagorno-Karabakh em 2020 agora recompensa essa agressão — comprometendo ainda mais a segurança e a soberania da Armênia e, nesse processo, ajudando o Azerbaijão a normalizar e formalizar sua limpeza étnica, seu genocídio, de mais de 150 mil armênios cristãos indígenas”, disse Hamparian em comunicado.

A participação da administração Trump no conflito começou no fim do último inverno, quando seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, encontrou-se com Aliyev em Baku. Trump elogiou o papel de Witkoff no acordo, comparando-o a “Henry Kissinger que não vaza informações”.

O tratado representa uma vitória para Trump, enquanto seus esforços para encerrar os combates na Ucrânia e em Gaza ainda não obtiveram sucesso. Sua última conquista nesse sentido ocorreu no mês passado, quando interveio para levar Camboja e Tailândia à mesa de negociações. Em junho, ele celebrou um acordo de paz mediado pelos EUA entre a República Democrática do Congo e Ruanda, com assinatura no Salão Oval. Trump também reivindicou participação em um cessar-fogo em maio entre Índia e Paquistão, embora a Índia negue a atuação norte-americana como fator decisivo.

“Hoje, a assinatura segue nosso sucesso com Índia e Paquistão. Eles estavam em conflito. Também o Congo e Ruanda. Esse foi um que durou 31 anos… e agora está resolvido, e as pessoas estão muito felizes”, afirmou Trump.

Trump busca há anos o Nobel da Paz e já questionou publicamente a decisão de conceder o prêmio, em 2009, ao ex-presidente Barack Obama. Diversos líderes mundiais afirmaram tê-lo indicado ao prêmio, incluindo o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o primeiro-ministro cambojano Hun Manet.

Pashinyan e Aliyev declararam, na sexta-feira, acreditar que Trump merece o Nobel da Paz e que farão campanha junto ao Comitê Norueguês do Nobel em seu favor.

“Não quero entrar na história de algumas decisões muito estranhas do Comitê Nobel da Paz, premiando alguém que não fez absolutamente nada, mas o presidente Trump, em seis meses, fez um milagre”, disse Aliyev.

O corredor em discussão conectará o território continental do Azerbaijão ao seu enclave sem saída para o mar, Nakhchivan, sendo um elo faltante em uma rota leste-oeste potencialmente lucrativa chamada “Corredor Médio”, que liga a China e países da Ásia Central à Turquia, passando pelo Azerbaijão.

O trânsito pelo Azerbaijão oferecerá à Armênia, país sem saída para o mar, uma alternativa comercial terrestre à Geórgia e ao Irã, que eram suas únicas rotas internacionais. A fronteira terrestre turco-armênia está praticamente fechada há mais de 30 anos.

A Turquia, que compartilha laços culturais e linguísticos com o Azerbaijão, fechou a fronteira em 1993, em apoio a Baku na disputa por Nagorno-Karabakh. Ancara e Yerevan também mantêm disputas históricas sobre o massacre de armênios pelo Império Otomano, em 1915, que a Turquia nega ser genocídio.

O acordo de sexta-feira prevê a criação de uma equipe de negociação para o corredor de trânsito, que poderá começar a se reunir com empresas interessadas já na próxima semana, segundo um alto funcionário da administração norte-americana.

Em resposta às críticas da diáspora armênia, esse funcionário afirmou que o tratado fortalecerá a segurança e a economia da Armênia, em contraste com os esforços militares russos de manutenção da paz na região, que, segundo ele, “têm sido verdadeiros fomentadores de guerra”.

A relação da Armênia com a Rússia se rompeu após a perda de Nagorno-Karabakh, em meio à indignação pública, mas a relação antes pragmática entre Moscou e Baku — baseada em laços energéticos confiáveis — também se deteriorou no último ano, após um avião de passageiros azeri ser abatido acidentalmente no espaço aéreo russo, matando 36 pessoas.

Embora Moscou tenha tentado abafar o caso, Aliyev exigiu punição para os responsáveis. Putin pediu desculpas pessoalmente e autorizou o pagamento de indenizações.

Aliyev anunciou que Baku pretende processar a Rússia em tribunais internacionais pelo incidente. “Estamos prontos para esperar 10 anos, mas a justiça deve prevalecer. Infelizmente, a situação atual, em suspenso, não contribui para o desenvolvimento das relações bilaterais entre Rússia e Azerbaijão”, disse.

No mês passado, novas tensões surgiram após Baku deter o diretor executivo e o editor-chefe da Sputnik, agência estatal russa, em retaliação a operações russas contra a comunidade azeri em Ecaterimburgo. Duas pessoas morreram durante a ação do Serviço Federal de Segurança da Rússia, e dezenas foram presas.

A decisão de Armênia e Azerbaijão de buscar a paz sob a mediação de Trump evidencia a desconfiança dos vizinhos da Rússia após mais de três anos de guerra na Ucrânia, na qual Putin demonstra disposição de sacrificar centenas de milhares de soldados para subjugar Kiev.

Enquanto os EUA reforçam sua influência no Sul do Cáucaso, nações da Ásia Central se afastam da Rússia e se aproximam da China, da Turquia e de outros parceiros.

Para Moscou e Teerã, a participação norte-americana no corredor de Zangezur ameaça seu controle sobre o comércio norte-sul na região.

FONTE/CRÉDITOS: The Washington Post
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